História de Heliópolis

Breve Histórico de Heliópolis : da propriedade da gleba e da sua ocupação

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A área de Heliópolis foi adquirida em 1942 pelo Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Industriários – IAPI, do Conde Sílvio Álvares Penteado e outros. Em 1966, com a unificação dos diversos Institutos do INPS – Instituto Nacional de Previdência Social, a gleba passou para o IAPAS – Instituto de Administração financeira da Previdência e Assistência Social. Em 1969 o IAPAS construiu o Hospital Heliópolis e o Posto de Assistência Médica – PAM. Outra parte do terreno original foi desapropriada pelo estado para uso da SABESP e outra parte foi negociada com a Petrobras.

É nesta paisagem que entre 1971 e 1972 a prefeitura de São Paulo retira 153 famílias de áreas ocupadas na favela da Vila Prudente e Vergueiro, com a intenção de fazer vias públicas e as acomoda em alojamentos “provisórios” no terreno do IAPAS, alojamentos estes que se tornaram permanentes. Outras famílias foram construindo seus barracos, bem como os trabalhadores da obra do Hospital Heliópolis e do PAM.

A partir daí, a história é marcada por diversas ocorrências envolvendo a disputa de grileiros, que pretendiam impedir as ocupações e, assim comercializar a terra que não lhes pertencia,  e de lutas contra a polícia, mas também mobilização dos moradores e surgimento de lideranças em defesa da posse da terra e de infra-estrutura.

Heliópolis possui aproximadamente  1 milhão de metros quadrados, localizada ao sul do município de São Paulo, região do Sacomã, a 25 Km do centro da cidade. Segundo dados do IBGE, são 125 mil habitantes, sendo 92% da população  de origem nordestina, com 53% na faixa etária de 0 a 25 anos. Segundo dados da Prefeitura da cidade de São Paulo, Heliópolis possui hoje 18.080 imóveis ( a maior parte dos barracos se transformaram em construções de alvenaria), 75% do bairro já tem infra-estrutura urbana. Segundo levantamento realizado pela Fundação Casper Líbero e UNAS, existe hoje mais de 100 entidades (religiosas, associações de moradores, ONGs),  que realizam programas e projetos na comunidade ,  voltados  à prática religiosa, educação não formal, atividades culturais, artísticas e esportivas. Existem mais de 3 mil pontos comerciais, segundo o levantamento da Associação dos Comerciantes de Heliópolis (ACHE) : padarias, pequenas lojas, açougues, cabeleireiros, farmácias, pequenos mercados, oficinas de carro e moto, lan-houses e mais de 1000 bares. O transporte público não entra em Heliópolis, pois há vielas, becos e ruas  muito estreitas, fazendo com que as pessoas se desloquem até as vias principais onde estão localizados os pontos de ônibus. Aproximadamente 40% das famílias é composta por mãe e filhos, sendo a mãe a única provedora.  Há escolas públicas , mas não em número suficiente para atender a demanda. Não há museus, cinemas, teatros, áreas de lazer, parques, espaços esportivos… Há a atuação do tráfico de drogas. Ainda, segundo dados da Prefeitura, a renda média familiar  é  de R$ 479,48. A vulnerabilidade social ainda  atinge grande parte da população.

UNAS – União de Núcleos e Sociedades dos Moradores de Heliópolis e São João Clímaco .

Foi na resistência  da comunidade de Heliópolis contra a grilagem e na luta pelo direito à moradia  que nasceu a UNAS , em meados dos anos 80, organização da sociedade civil de maior representação  e atuação dentro de Heliópolis.  A UNAS tem como Missão : Promover a cidadania, a melhoria da qualidade de vida e o desenvolvimento integral da comunidade, através de parcerias com o poder público, iniciativa privada e articulações com  movimentos sociais, fóruns, redes e ONGs.

Ao longo da sua história, que se entrelaça com a história e o crescimento de Heliópolis, a UNAS vem  ampliando a sua visão de mundo. Além de focar suas ações no direito à moradia e infra-estrutura digna, vem  empreendendo esforços na construção do direito à cidadania plena dos moradores da comunidade, atuando nas áreas de:

  • Formação e Educação
  • Geração de trabalho e renda
  • Criança e Adolescente
  • Comunicação e Informação

Uma das maiores preocupações da UNAS, hoje, é com a educação, a qualidade de vida e o futuro de suas crianças e jovens, dos quais uma grande parcela vive em situação de alto grau de  vulnerabilidade.

Este processo se intensificou a partir da forte relação construída com a EMEF Presidente Campos Salles (Rede Municipal de Educação de São Paulo),   na busca por uma “educação com qualidade social, libertária e transformadora”,  que resultou na  priorização da educação como eixo condutor e organizador da comunidade para o melhor enfrentamento da luta pela efetivação do direito ao trabalho, saúde, transporte, cultura, lazer e tantos outros.Uma educação que promova o diálogo entre todas as áreas do conhecimento, que respeite e considere o saber e as expressões artístico-culturais da comunidade. Uma educação que não pode estar circunscrita ao espaço da escola, que pelo contrário, rompe com os seus muros, ganha cada rua e viela de Heliópolis, quebrando preconceitos, rótulos e estereótipos, fortalecendo a identidade da comunidade, ampliando o seu universo cultural, construindo uma cultura de paz, onde aquele que ensina também aprende e aquele que aprende, também ensina.

Desta  relação nasce um movimento que vem ganhando força e contaminando todos os equipamentos educacionais e sócio-culturais da comunidade, bem como os moradores, as famílias e, principalmente as crianças e jovens : Transformar Heliópolis num Bairro Educador.

Neste contexto, a UNAS , consciente da sua responsabilidade quanto às lutas da comunidade  e da fundamental importância  da sua história ,  que não pode cair no esquecimento dos seus moradores e da cidade de São Paulo, especialmente pela sua marca de resistência e coragem , tão significativa  para a construção do Bairro Educador e, entendendo a Arte como mediadora da expressão desta comunidade,  propõe uma agenda cultural que contemple os talentos de Heliópolis e o resgate dessa memória.

Projeto “ Heliópolis : Memória e a Contemporaneidade”

O projeto deverá focar a história de Heliópolis, através de diversas linguagens artísticas, tendo como protagonistas, tanto os moradores e lideranças da comunidade, que vivenciaram o início da organização, os  primeiros confrontos e lutas, quanto os moradores mais jovens que, conscientes ou não,  são fruto deste processo e a possibilidade da sua continuidade.

Neste primeiro momento, a história será “contada” por  Núcleos Permanentes de Teatro, Música, Hip Hop, Artes Visuais/Fotografia e Cultura Popular, através de oficinas, apresentações e exposições, destinado ao público de todas as faixas etárias.

Objetivos gerais do projeto :

  • Fortalecer a identidade individual e coletiva dos moradores da comunidade.
  • Mapear e revelar a produção cultural e artística “oculta” de Heliópolis, abrindo espaços de diálogo entre as gerações, espaços de criação, exposição, difusão, multiplicação e circulação dessa produção.
  • Promover a interlocução da sua produção cultural com outras produções da cidade, respeitando e garantindo a diversidade.
  • Organizar o debate e criar condições de novas idéias e proposituras sobre as questões políticas, econômicas, ambientais, sociais, éticas e estéticas que afligem a comunidade, a cidade, o país e o mundo.

Os Núcleos Permanentes serão implantados nos espaços do Centro Cultural, equipamento integrante do Centro de Convivência Educativa e Cultural de Heliópolis ( Decreto Municipal nº 50740, de 16 de julho de 2009), viabilizado a partir da parceria da UNAS com o Poder Público e com o arquiteto Ruy Ohtake, idealizador do projeto arquitetônico.

Autor: Arlete Persoli

Uma resposta para História de Heliópolis

  1. Vivi Tuppy disse:

    CARÍSSIMOS Li a reportagem publicada pela revista Carta Capital, da qual sou leitora há anos,e fiquei profundamente admirada com a qualidade das ações realizadas pela equipe pedagógica. Muito me tocou a coragem e a determinação, portanto não poderia deixar de manifestar minhas impressões e parabenizá-los. Trabalho com ações construtoras de Cultura de Paz há 35 anos, seguindo as referências da UNESCO e mantenho um programa Educadores da Paz na rede estadual de ensino de Araçatuba, onde resido. Entendo não ser possível pensar em educação sem pensar em violência em todas as suas manifestações, e como proteger a nossa criança e adolescente, suas famílias e comunidade. O programa formativo dos Educadores da Paz possui para tanto, metodologia com dispositivos para mudar os processos reativos da violência de forma consciente através do treino atencional. Acredito que precisamos instrumentar a equipe, crianças, adolescentes, funcionários, família e entorno nas práticas do diálogo, da resolução pacífica de conflitos e a sustentação de foco atencional, tendo como referência a Neurociência e a Justiça Restaurativa. Deixo como sugestão, pois reduzir os índices de violência e aumentar os índices de aprendizagem já é um grande desafio. Abraços com a alegria de saber que existem pessoas como vocês, que acreditam em pessoas. PARABÉNS!

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